Sexta-feira 6 de Abril, exactamente às 23:59, hora de Jerusalém, as discussões filosóficas no seio da Irmandade são interrompidas por um senhor que trazia um tabuleiro com Francesinhas a fumegar.
Após um interminável minuto para contemplação, absorção dos aromas e algumas tossidelas a disfarçar o barulho cavernoso dos estômagos, ao ataque meus amigos, que é para isso que aqui estamos. Quando alguma da glicose atingia o meu cérebro, duas coisas vieram à minha mente: em primeiro lugar, o porquê de nunca ninguém se ter lembrado de fazer a Irmandade da Pescada Cozida e em segundo, que ainda nem sequer tínhamos falado no local que hoje visitávamos.
O Café Diu (que podia ser a parte final de uma trilogia Cafés Índia Portuguesa, de Lars Von Trier) é mais um espaço amplamente conhecido pela catraiada estudantil da cidade do Porto. Fica situado na freguesia de Cedofeita, na Rua da Boavista, bem de frente para o belo monumento que celebra os heróis que mantiveram fora da nossa cidade os invasores franceses. Felizmente cá na Invicta sempre soubemos separar o trigo do joio e mantendo os franceses fora do burgo, deixamos entrar as Francesas. Inhas.
Ao contrário do habitual, o Café Diu não estava cheio pelas costuras. É altura de deslocações "à terra", férias estudantis e claro que o desinteressante duelo entre dois Vitórias a tentarem escapar à derrota que ia aparecendo nos televisores também não ajuda a encher uma casa.
Felizmente para nós, os dos estômagos já muito desconfiados de estarem a ser enganados pelas azeitonas, as Francesinhas não tardaram. Como sempre, quando nos é dada essa hipótese, optamos pela Francesinha Especial, que é normal, e não enveredamos pelas derivações "XL" ou "XXL". E em boa hora, porque a nível de tamanho estava perfeitamente adequada. O molho avermelhado, mais escuro que o habitual, suscitou curiosidade. Sucessão de impressões: quente :-), adocicado :-(, tomate :-|, carne :-), picante :-)), muito picante :-))), ahhhhhh! :-)))). Estranho ao início, bom à medida que se entranha, claramente em quantidade insuficiente. Mas os reforços chegaram logo de seguida, bem quentes e picantes. No recheio sobressai um bom bife, talvez um pouco temperado em demasia, com o que parecia ser pimenta branca. Queijo bem derretido e os enchidos a cumprirem o seu papel na composição. O pão parecia bem tostado, mas na verdade era apenas uma capa superior, sendo a parte interna bastante desinteressante. A vantagem é que não era espesso e tendo absorvido muito bem o molho, foi contagiado pelo seu sabor. As batatas e os finos iam sendo repostos automaticamente à medida que iam desaparecendo, o que atesta um serviço competente e atento, sem "salamaleques", que haviam sido irradiados já em 1509. No final ainda nos despedimos do simpático pirata que guarda esta fortaleza.
Já vários seguidores da Irmandade nos tinham recomendado as Francesinhas do Café Diu, dizendo que acima de tudo tinham a particularidade de serem sempre iguais, sem variações de qualidade. A Irmandade da Francesinha não o pode comprovar pois, como é sabido, apenas avaliamos uma experiência em particular, mas se realmente assim o for felizmente que essa consistência está assente numa boa Francesinha. Desafiamos os nossos leitores para verificarem por si próprios.